O Brasil deu um passo decisivo na agenda internacional de clima ao apresentar um plano ambicioso para destravar financiamento climático em escala global, articulado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e apresentado em evento paralelo às reuniões do FMI e Banco Mundial em Washington.
O relatório internacional e sua abrangência
Em uma iniciativa inédita, o Brasil lidera um Círculo de Ministros de Finanças formado por 35 países que endossaram um relatório propondo reformas estruturais para mobilizar até US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para ações climáticas em países em desenvolvimento.
O documento recomenda, entre outras medidas:
Reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento para torná-los mais ágeis e capazes de financiar projetos climáticos de impacto.
Alinhamento regulatório e taxonomias verdes que incorporem critérios climáticos nas decisões de crédito.
Incentivos públicos e privados ao setor empresarial com práticas sustentáveis.
Sincronização dos mercados de carbono para estabelecer um preço global coerente para emissões.
Importantes países que assinaram ou manifestaram apoio ao relatório incluem China, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha, Emirados Árabes Unidos, México e Canadá. Curiosamente, os Estados Unidos permanecem fora desse círculo estratégico — nem participam oficialmente do acordo da COP30 nem do Acordo de Paris, segundo a apresentação.
Benefícios esperados — e riscos
Ao assumir a presidência da COP30, o Brasil busca converter seu protagonismo diplomático em ganhos concretos, tanto para as negociações climáticas quanto para a economia doméstica.
Dentre os potenciais benefícios:
Atração de investimentos verdes internacionais — inclusive para projetos de proteção florestal, restauração e energia limpa.
Apoio para projetos brasileiros de mitigação e adaptação, com mais capacidade financeira.
Fortalecimento institucional e regulatório no Brasil para viabilizar a transição econômica com sustentabilidade.
No entanto, especialistas alertam que a capacidade para executar investimentos nessa escala depende de governança eficaz, transparência e alinhamento entre os setores público e privado. Organizações da sociedade civil pedem participação mais aberta nos processos de elaboração do plano e questionam como garantir que os recursos cheguem a países vulneráveis.
Panorama do financiamento climático no Brasil
Segundo levantamento recente, o Brasil recebe cerca de R$ 15,4 bilhões por ano em financiamento climático internacional via instituições públicas (58 %) e mais R$ 11,2 bilhões do setor privado (42 %).
Setorialmente:
Energia é o setor que recebeu a maior fatia (53 %) dos recursos, principalmente de fontes solar e eólica.
Florestas e uso da terra ficaram com apenas 11 % do total, com cerca de R$ 623 milhões destinados especificamente ao segmento florestal — um percentual considerado baixo diante da relevância amazônica.
Além disso, o Brasil apresentou durante a Conferência de Bonn o Roadmap de Baku a Belém, que conecta as metas da COP29 com os compromissos esperados na COP30, reforçando a urgência de decisões políticas e fluxos financeiros concretos.
Dentro do espaço estratégico dos BRICS, o Brasil também conseguiu aprovar uma recomendação inédita sobre financiamento climático coletivo, com foco em reformas bancárias multilaterais e mobilização de capital privado.
O plano de Haddad e os próximos passos
Na Pré-COP30, Haddad apresentou cinco prioridades estratégicas para transformar a proposta em realidade operacional, como a reforma dos bancos multilaterais, adoção de supertaxonomia e criação de fundo florestal nacional.
O Brasil também lançou, em evento preparatório, uma agenda de ações prioritárias para mobilizar recursos, implantar regulamentos climáticos e promover governança internacional mais robusta.
Os próximos meses serão decisivos:
Formalização do mapa do caminho financeiro até a COP30
Negociações intensas com países desenvolvidos para elevar compromissos financeiros — especialmente para alcançar a meta coletiva de US$ 1,3 trilhão.
Construção de mecanismos de prestação de contas e transparência para assegurar que recursos cheguem aos locais mais vulneráveis.
Se bem executado, o plano brasileiro poderá marcar um giro estratégico nas negociações climáticas, sendo classificado como um momento decisivo para colocar em prática a promessa de “financiamento climático transformador”.
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