A definição da Moody’s Investors Service de elevar a classificação de crédito soberano do Brasil, anunciada na última terça-feira (2), não trouxe grande otimismo para os mercados. A elevação, que posicionou o Brasil um nível abaixo do grau de investimento, foi recebida com cautela por investidores e analistas, que destacaram a complexidade do cenário fiscal do país.
Na quarta-feira (3), tanto o índice Ibovespa quanto o real registraram variações menores que 1%, refletindo a percepção contida do mercado frente à atualização. Para Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management, a medida é vista como “uma aposta de que a situação vai melhorar”, mas ele alerta que os desafios fiscais do país ainda são evidentes nos preços dos ativos.
A Moody’s justificou o aumento com base no crescimento econômico recente do Brasil, nas reformas tributárias em andamento e no programa de transição energética, que incluiu emissões de títulos sustentáveis. A agência prevê que, no prazo médio, o país consiga estabilizar sua relação dívida bruta/PIB em 82%. No entanto, essa perspectiva mais otimista diverge da visão de parte do mercado.
Segundo Martin Castellano, economista-chefe para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais, a agência está mais confiante do que o mercado sobre a capacidade do Brasil de consolidar sua situação fiscal e estabilizar a dívida pública. Ele aponta que, embora o governo tenha feito esforços, ainda há muito a ser feito para que o Brasil alcance o grau de investimento, incluindo ajustes para conter os gastos obrigatórios.
Os analistas também destacam que a atualização da Moody’s pode ser vista como um voto de confiança na política fiscal do ministro das Finanças, Fernando Haddad. De acordo com Patryk Drozdzik, estrategista sênior do Amundi Investment Institute, a atualização oferece um impulso político ao governo, reforçando a importância da prudência fiscal para manter o engajamento do mercado. “Haddad tem trabalhado arduamente para preservar uma política fiscal responsável, o que não tem sido fácil. Essa atualização fortalece sua posição e o apoio político necessário para seguir adiante”, afirmou Drozdzik.
Ainda assim, as questões fiscais permanecem, especialmente diante da incerteza nos gastos e das limitações nas medidas de austeridade. Para os analistas, sem ajustes significativos na estrutura fiscal, o Brasil terá dificuldades em alcançar novas elevações na classificação de crédito.
A medida da Moody’s, embora reconheça o progresso econômico do país, serve como um lembrete de que os desafios estruturais permanecem no caminho para a tão almejada recuperação financeira e para o status de grau de investimento.
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